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Uma colheita maior de grãos é destacada pelo governo como uma das alternativas para os altos preços dos alimentos.
“Estou bastante otimista de que a colheita deste ano, com base em todos os relatos que recebi da equipe do setor agrícola, será bastante robusta. Isso também irá contribuir,” afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última terça-feira (4).
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê um aumento de 8,2% na colheita de grãos entre 2025 e 2026 em comparação ao ciclo anterior. Este seria um novo recorde e inclui produtos como feijão, arroz, milho e soja, que é utilizada na alimentação animal.
A pesquisadora ressalta que o valor dos grãos é fortemente influenciado pelo mercado internacional e, assim, pela cotação do dólar em relação ao real.
A valorização da moeda dos Estados Unidos tem elevado os custos de produção e impulsionado as exportações, reduzindo a quantidade de alimentos disponível no mercado interno. Isso acontece pois, com o real em desvalorização, o mercado externo se torna mais atraente para os produtores do que o interno.
No ciclo 2023/24, por exemplo, houve um aumento de 19,6% em relação ao período anterior, conforme dados do índice de Produção Agrícola Municipal (PAM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses resultados são atribuídos ao aumento da produtividade, segundo Carrara, do Cepea.
Entretanto, os benefícios de uma boa colheita em 2025/26 podem demorar a ser sentidos nas prateleiras dos supermercados. De acordo com Sergio Vale, do IBDA, os consumidores perceberão o impacto somente a partir do segundo semestre.
“[A inflação vai ocorrer], mas talvez em um índice menor do que esperávamos,” diz André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV – Ibre).
Para o ciclo 2025/26, a Conab espera um aumento na produção de soja, milho, arroz e feijão, que, segundo a instituição, terá a segunda maior colheita dos últimos 15 anos, perdendo apenas para a safra de 2013/14.
Apesar do aumento na produção de soja, o preço da carne bovina deve continuar sob pressão devido ao ciclo da pecuária: após dois anos de muitos abates, a oferta de bois começará a reduzir.
A expectativa de uma colheita expressiva de grãos é motivada pelas condições climáticas, que já estão superiores às do ano anterior.
“No ano passado, enfrentamos uma seca generalizada. Essa situação que vivenciamos provavelmente não se repetirá em 2025. Em 2024, foi algo completamente anômalo,” declara Ana Paula Cunha, especialista em monitoramento de secas do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).
Para os especialistas consultados pelo g1, outros aspectos devem ocorrer juntamente com uma boa colheita de grãos para que os preços dos alimentos diminuam. Veja abaixo.
Elevação da taxa de juros: este índice afeta diretamente a taxa de câmbio, o que pode resultar na redução do preço do dólar, de acordo com Carrara, do Cepea. No entanto, a especialista esclarece que, em geral, esse tipo de alteração leva cerca de seis meses para refletir nos custos dos alimentos.
Na semana passada, a taxa Selic foi ajustada de 12,25% para 13,25% ao ano, marcando a quarta elevação seguida.
Na ata da reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, foi mencionado que os preços dos alimentos subirão “significativamente” devido, entre outros fatores, à seca enfrentada no ano anterior e ao aumento dos preços das carnes, influenciado também pelo ciclo do gado.
Taxas de juros mais baixas para os produtores: a introdução de uma taxa de crédito reduzida no Plano Safra para os agricultores que trabalham diretamente com alimentos seria fundamental para a diminuição dos preços, uma vez que isso promoveria a produtividade no campo e ampliaria a oferta, conforme explica o especialista.
Na quarta-feira (29), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo está analisando a possibilidade de oferecer incentivos para produtos específicos com taxas de juros mais baixas no Plano Safra 2025.
O ministro mencionou que a taxa diferenciada por tipo de cultivo já faz parte do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), gerido pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário.
Transporte aprimorado: uma significativa porção do custo dos produtos é atribuída à logística. Atualmente, o sistema de transporte é quase exclusivamente rodoviário, o que resulta em um grande impacto dos preços do diesel e gasolina nos valores dos alimentos, segundo Braz.
O economista sugere que o Brasil poderia explorar melhor o transporte fluvial, por exemplo.
Construção de silos: essas construções são fundamentais para a armazenagem dos grãos excedentes. Sem elas, uma parte da colheita pode ser perdida. Ademais, com um sistema adequado, os pequenos produtores que não têm armazenamento próprio poderiam ser mais incentivados a cultivar, afirma o pesquisador da FGV.
Mais tecnologia: considerando as alterações climáticas, que tornam cada vez mais incerta a melhor época para o plantio e a possibilidade de uma boa colheita, Braz acredita que é crucial investir em sementes que resistam à seca e às altas temperaturas, para reduzir as perdas.
Por que os alimentos ficaram mais caros? Vários fatores têm influenciado o aumento dos preços dos alimentos, conforme especialistas consultados pelo g1. Veja a seguir.
Fenômenos climáticos: com a presença do El Niño, a seca no país se tornou generalizada em 2024, o que afetou negativamente a colheita de várias culturas essenciais, como a laranja e o café. O clima também comprometeu a qualidade da pastagem, o que repercute no custo da carne.
Desvalorização cambial: a valorização das moedas estrangeiras eleva os preços das commodities, visto que são comercializadas globalmente. Isso também faz com que seja mais vantajoso para o agricultor vender seus produtos fora do Brasil, resultando em uma diminuição da disponibilidade desses produtos para o consumidor local.
Adicionalmente, o aumento do valor do dólar encarece os custos de produção, uma vez que insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas são adquiridos de outros países.
Alta do consumo: a procura por alimentos no mercado nacional também cresceu. Isso ocorreu porque, em 2024, o Brasil registrou uma redução nas taxas de desemprego. No ano anterior, o país atingiu a menor taxa média desde o início da coleta desse dado pelo IBGE, em 2012, atingindo 6,6%.